Allen Halloween - Entrevista em Vice PT

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Já não me recordo exactamente de quem me falou pela primeira vez do Halloween, mas lembro-me que foi no contexto de fazer uma série de entrevistas a G Rappers portugueses. De facto a primeira vez que o ouvi fiquei imediatamente rendido à “fraca” qualidade do som dele, recordando-me as primeiras cenas de WTC. Isto só acontece quando o factor originalidade ultrapassa largamente a qualidade de uma grande produção, ou um grande estúdio – “Yes Baby I Like It Raw!”. Allen Halloween faz rap desde os 16 anos e editou o seu primeiro álbum, Mary Witch, em Outubro de 2006, tendo-se tornado num fenómeno de sucesso no universo do hip-hop nacional. Nasceu na Guiné-Bissau e aos quatro anos emigrou para Portugal. Do bairro Azinhada do Barruncho, num subúrbio de Odivelas, mostra uma face oculta do país, mostra de forma crua tudo o que os outros não mostram. Cresceu nos subúrbios entre rusgas policiais e rixas em discotecas, tem muito para contar e aproveita a música para o fazer. Fomos a Coimbra, ao Via Latina, e mesmo antes de um concerto, fizemos a primeira entrevista ao Halloween com a promessa de irmos a Odivelas muito em breve.

Vice: Se te disser que a forma como cantas faz-me lembrar o ODB e os teus instrumentais Wu Tang Clan, ficas ofendido?
Halloween: Não fico nem um bocado ofendido. Eu gosto muito de Wu Tang, mas acho que tenho o meu próprio estilo e trabalhei muito para criá-lo.

Vice: As tuas rimas são relatos reais da tua vida?
Halloween: As minhas letras são pedaços da minha vida e daqueles que me rodeiam misturados com a minha arte. Não há nada que tenha escrito que não tenha vivido, visto ou sentido.
Vice: Dizes que não tens de chegar aos outros, mas os outros é que têm de chegar a ti, isso quer dizer que te estás a cagar para toda a gente?
Halloween: Eu nunca disse isso. Dei uma entrevista ao Público e quando questionado, se não temia que muitas pessoas não entendessem algumas expressões utilizadas por mim, respondi que nem sempre temos que ser nós a chegar aos outros, às vezes os outros têm que chegar a nós. Acho que cada pessoa anda na sua direcção mas quando queremos encontrámo-nos.
Vice: Qual é a história por detrás da música Fuck y’All yo?
Halloween: Fartei-me de ouvir mentiras. Acompanho o movimento underground “tuga” desde do início. Inicialmente era um grupo de putos que combatia o “sistema”, que depois no final acaba por fazer parte da criação desse mesmo “sistema”. Basta ires, por exemplo, ao Myspace desses combatentes do “sistema” e vê o grupo de amigos deles, e está lá o “sistema” todo. Falo duma elite do hip-hop “tuga” que dão festas entre si, gravam entre si e bloqueiam o acesso de outros rappers a lojas e outros meios de divulgação e venda. Eu senti isso na pele. O meu trajecto no hip-hop foi muito difícil, venho directamente da rua para os ouvidos do mundo.
Popo:
A primeira vez que qualquer pessoa ouviu falar de Halloween não foi porque cantou na mixtape do DJ “x”, ou porque fez uma participação no álbum do conhecido rapper “y”, ou cantou na festa de lançamento do MC “z”, não, não houve nenhum convite nesse sentido. Finalmente, quando o meu CD saiu e começaram a chover telefonemas de todos, a música Fuck y’All yo não poderia ter outro nome e as coisas mudaram muito desde daí. Desde esse som novos talentos surgiram sem terem de lamber botas a essa elite. Acho que esse som traumatizou muita gente. Foi o único punchline que fiz até hoje e, hoje ainda fazem respostas a esse som… Mas eu já “bazei” há muito tempo. Existem coisas que me preocupam mais.
Vice: O 50Cent foi a Angola e foi roubado em pleno palco, tu foste lá dar um concerto e para além de não ter havido confusão, foste considerado o maior. Vês aqui uma evolução, uma demonstração de respeito?
Halloween: Não se trata de evolução ou respeito, trata-se de inveja. O 50Cent foi a Angola e foi atacado por um invejoso qualquer à procura de protagonismo. Em termos de fama, ao lado de um 50Cent, eu ainda não nasci. Mas também já senti na pele esse lado oportunista e invejoso de algumas pessoas. Tenho tido sorte, os invejosos comigo têm-se dado mal. A minha “tropa” não dorme em serviço e olho gordo a gente vê à distância. Acho que há pessoas que só vivendo duas vezes irão perceber que os 50Cents, os Marilyn Mansons ou os Halloweens são o que são, não por serem maus ou gangstas ou malucos, mas sim porque a arte deles toca-as.

Vice: Mas em Angola és o número 1.
Halloween: Angola tem uma cena… o povo Angolano saiu da guerra…, mas mesmo durante a guerra, foi um povo que sempre gostou de se divertir. Os que estão aqui em Portugal também gostam de se divertir. Acho que os Angolanos se identificam comigo. Ao fim e ao cabo, há muitos rappers que falam mais ou menos daquilo que eu falo, mas falam em crioulo, e então os Angolanos revêem-se naquilo que digo.
Vice: Como é que é a vida dos Angolanos aqui em Portugal?
Halloween: Bem… Agora também já há Angolanos milionários que andam a comprar esta merda toda! Mas como foi a vida deles? Eu já estive com Angolanos ali no CEF para tentarem arranjar documentos. São esses que se revêem na minha música… Angola, em certos pontos, é pior que Portugal. Quando fui lá, só para te dar um exemplo, estive no Rangel, que é um gueto, e estive no Chill Out, que é uma discoteca com um nível que aqui em Portugal nunca fui. É tipo 8 e 80. Tens pessoal a vender água e gelo na rua, e no Chill Out parecia que estavas em Miami. É por isso que vou lá cantar e há muita gente que se reconhece naquilo que eu digo. Uma coisa que nunca tinha visto antes de ter estado em Angola, foi estar no palco a cantar e estar um gajo no público a olhar para mim a chorar. Fiquei mesmo…, porra! Acho normal.
Vice: Em Portugal pouca gente conhece o teu trabalho. Trabalhas há quantos anos?
Halloween: Depende do que significa trabalho para ti.
Rap.
Vou dar-te uma dica. Desde os 16 anos, talvez 14, que faço rap. Sempre escrevi desde puto, desde os 8 anos. Sempre gostei de escrever. O primeiro gajo que apareceu no meu bairro a rimar, foi o Bottle, o primeiro MC que vi. É um gajo que foi da minha crew, foi para a Irlanda à procura da vida. Antes de ter visto qualquer rapper aqui em Portugal, vi-o a rimar e passado uma semana já tinha melhores rimas do que ele porque eu já escrevia. Não escrevia rap, mas escrevia textos e coisas que rimavam. Foi mesmo só apanhar o flow e depois a cena começou a crescer. Uma coisa normal. Não te vou mentir, tenho influências de Wu Tang, Tupac, mas tenho o meu próprio estilo. No fundo os estilos misturam-se e eu tenho o meu flow original.
Vice: Normalmente os rappers não falam dos projectos mais pequenos.
Halloween: Isso é inveja.
Vice: Queres mandar um shout?
Halloween: Submundo, Dominus Familia, Goia, Kriminals Familia, J Cap, Drunk Master, TWA, gajos que trazem coisas novas. Há gajos que não me vêm à cabeça agora mas estes são gajos que trazem coisas novas, vocabulário novo. Inventam uma palavra e amanhã está na rua. Kapataz, Dealema, do Norte. Sebeyks, Kromo Di Ghetto, são tantos…
Vice: Isso é muita gente. ‘Tá-se bem?
Halloween: Sim, ‘tá-se bem. Mas se for preciso mandar alguém para o caralho, também mando. E há gajos que levam isso para outras cenas. Se não gosto de um MC começa-me a vir a cara dele à carola e a virem as dicas, escrevo e canto. E depois? Ele vai ver-me na rua e vai querer matar-me? [risos] É o que penso deles. Há gajos esquizofrénicos, doentes, falam mal de mim, vejo-os na rua e dão-me vontade de rir. Podia agarrar e metê-los na mala do carro e levá-los para o meu bairro, mas não. O pessoal pode dizer o que pensa de alguém sem ofender.
Vice: Acreditas que existem pessoas que têm medo de marcar um concerto teu?
Halloween: A cena não é o pessoal ter medo de me convidar para concertos. O pessoal tem medo de ver concentrados num sítio 100 pretos ou 100 gajos do bairro “não sei quê”. Têm medo de concentrações. Há certos sítios em Lisboa que, se me convidam para ir lá cantar, acontece isso. Mas eu não tenho nada a ver com isso porque sou músico, é o meu trabalho. Estou lá no meu canto e o que se passa a seguir ultrapassa-me. A cena é essa. Não posso controlar. Não posso chegar ao palco e dizer ao pessoal para não fazer confusão. Isso é um problema dos seguranças, eles é que ganham dinheiro com isso. Eu vou lá cantar o que tenho para cantar e vou-me embora.
Vice: Já foste convidado para aparecer na TV ou falar em rádios nacionais?
Halloween: Para te falar a sério, convidam-me para algumas coisas, para outras não. Vou dizer-te uma coisa, eu faço música e tudo aquilo que acho que vai levar a minha música além. Não tenho daquelas cenas: o Halloween é underground e não passa na MTV. Se leva a tua música além e não te põe a lamber botas… Se me queres pegar assim está bom! Eu dou-te o produto final e tu fazes o que quiseres. Por exemplo, nós estamos a conhecer-nos agora… E eu tenho tempo!
Vice: Compreendo.
Halloween: Sabes que não tenho manager e isso até fazia bem à carteira, mas também não tenho prazos, gravo o que quero e quando quero. É uma cena indie.
Vice: Tens data para o próximo álbum?
Halloween: Agosto, se Deus quiser. Mas trabalhos indie não têm prazos.


ENTREVISTA EXTRAÍDA NO NO BLOD madkutznews.blogspot.com
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2 comments:

joelsonmario disse...

d angola para tuga yo mano força daqui fala o nigga tass o reper mais cubiçado aqui na nguibi da um salto ao meu email. joelsonmario@hotmail.com , curto bue dos teus sons e da maneira q cantas continua nessa cena q e o maximo to contigo mano.

joelsonmario disse...

sao todos falço os que querem cubiçar a musica rap da maneira mais insigficativa da mesma maneira q o allowen e o valet to nessa cena com vosco. nigga tass angola ecruim