A música “Ecos de Maiombe”, do
rapper Kardinal MC, mostra a exclusão estrutural sofrida pelos moradores de
Cabinda, enclave que pertence a Angola.
Essa região é afastada do território de
Angola e não só apenas no quesito geográfico, mas também no sentido político e
econômico. Cabinda é uma região repleta de petróleo, diamante, ouro, madeira e
minérios, mas recebe apenas alguns royalties do que produz. Com isso, a
população dessa região, de cerca de 750 mil pessoas, clama pela independência.
Essa voz de revolta, porém, não é ouvida, pois existe uma arquitetura de
exclusão intencionalmente planejada pelo
governo angolano, para silenciar esse povo. Kardinal dá eco a essas vozes, em
que os gritos por melhorias são diários. Dessa forma, o rapper mostra que
enquanto o povo luta pela independência ou, pelo menos, por maior autonomia
política, a resposta é dada em uma ditadura instalada pelo governo do MPLA e
promessas vagas.
Kardinal também pede um basta na miséria e na exclusão. As reclamações de abrangem a área da educação deficiente e os hospitais sem médicos.
Ele
ainda enfatiza a questão da história de Cabinda ter sido deturpada por
colonizadores. Essa deturpação também jamais fora corrigida pelo MPLA, que opta
pelo silenciamento da história, para que o povo cabindense não reforce o seu
desejo de retorno a independência.
Kardinal MC aborda sobre a dizimação do povo originário. Alem disso,
convoca as pessoas para continuar na luta, porque a vitória será certa.
Cabinda é uma região que também possui uma identidade independente de
Angola no quesito cultural. Além de possuir língua própria, o fyote (também
conhecido como ibinda), existem mais de dez ritmos musicais exclusivos do
local.
Kardinal MC vangloria a importância de produzir um rap autêntico da região
e garantir a expansão das vozes do povo local. O rap mantém um padrão de rima e
certas características de batida, mas Kardinal MC consegue fazer um diálogo com
o local, para que o seu rap ganhe uma autenticidade, através das expressões,
das referências, do ritmo e do sentimento que ele deposita ao falar sobre
Cabinda, sendo identificado em seu flow.
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