Entrevista ao rapper, escritor e também productor Haudaz

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A CABMUSIC teve a oportunidade de entrevistar o Haudaz, uma das principais referencia do Rap com a matrícula CBA. Nesta entrevista o rapper, escritor e também productor, fala sobre os primeiros passos até a ribalta. Por: Magda Chitunda

1. Quem é o Haudaz?
R: É um Jovem natural de Cabinda, residente em Luanda há mais de uma década, estudante, Poeta, (Mc) Rapper... Antes de ser Haudaz fui Nigger C, depois Khonfuso, e agora sou o Haudaz. O nome vem pelo facto de ter enfrentado dificuldades no movimento, visto, que na época em que comecei os instrumentais, internet, até mesmo leitor de CDs eram difíceis, para gravar era percorrer longas distâncias, então tive a necessidade de readoptar um nome que definisse a minha persistência, militância, e escolhi .

2. Qual sua origem e porque optou por Luanda?
R: Eu sou uma reação tribal, tenho raízes em Moxico, Zaire E Cabinda... E o que me levou a mudar para Luanda foi à desestruturação familiar e oportunidades.

3. Como começou seus primeiros passos no Hip-hop?
R: Tornei-me rapper por influência do meu tio, no tempo em que os Rappers como o Xquadrão 8, SSP, Coolio, Tupac, Public Enimy e outros, estavam no auge ou nos ouvidos da juventude, ele era um ouvinte assíduo doa música Rap e Raggae, e isto influenciou-me bastante… Nos anos seguintes o meu irmão mais novo, também sofreu a mesma influência e foi como uma base para mim, por que ele começou a compor primeiro em relação a mim. Tomei contato com rap, nos anos 97/99, nesta mesma época eu, o meu irmão e um amigo, que á nem se lembra desta época, compúnhamos letras que abordam histórias, mas o kuduro, kizombas angolanas e Cabo-verdianas dominavam o meu mundo, e não passou de uma pequena febre. Mas defini-me verdadeiramente como (Mc) rapper nos anos 2002/2003 depois de ter me mudado para Luanda.

4. Como é fazer Rap num país de Kuduro?
R: Eu diria do Semba! Rsrs. É difícil, o Rap é o estilo que se não tiver um conteúdo fútil, para haver escoamento, é necessária muita ginástica. E tem como dois inimigos a ignorância do povo e a comunicação social (Controlada pelo partido no poder).

5. Que politicas usa para escoar a sua musica evitando o confronto com a ignorância do povo e a comunicação social?
R: Para se escoar a minha música, normalmente uso o telefone (bluetooth), CDs, blogs, e as redes sociais que também tem dado uma grande ajuda, para os mais informados tecnologicamente, pq tem gente que usa facebook, mas desconhece o que quer dizer um link, eis a razão que os cds, a via bluetooth para mim são importantíssimos...

6. Que conquista colheu/colhe oferecida pelo Hiphop?
R: 70 %, do que sou é consequência da Cultura Hip Hop, a estrutura do meu carácter, a capacidade de autodefesa, o meu empenho no que toca a escolaridade. A cultura fez-me obter uma posição muito minha, ensinou-me a nunca perder o meu reduto, deu-me bons e maus amigos. 

7. A quem diz que o Mc Roger e os SSP são os principais culpados dos destinos do HipHop nos PALOPS. Que influência teve o SSP na sua trajetória?
R: O SPP é daqueles grupos que despertou muitos de nós, eu gostava o som “olhos café”, em 94 se não estou em erro, eu rezava que a TPA passasse. Com isso, quero dizer que de certa forma os SSP influenciou e muito a minha geração, mas hoje percebo que através do contexto político, eles trouxeram ou confundiram algumas mentes (seguidistas)… Mas, eles não são o primeiro grupo de rap, mas sim o primeiro grupo a tirar um álbum com 70 % ou menos do Estilo rap, como já tinha referido, e se a história se repetisse, um disco com conteúdo interventivo mudaria ou influenciaria a consciência coletiva (as massas) nos dias de hoje, porque a Maioria carece de uma boa educação musical, ate os que se dizem ser Conscientes. Mas, para quem conhece um pouco da historia do país e do partido no poder (de como obteve o poder), vai perceber que a ideia de entupir a consciência coletiva já foi arquitetada á bastante tempo. SPP influenciou, e eu respeito, mas à que se ter uma opinião própria e definir o caminho que pretendes seguir. Nota que só se constrói uma sociedade com artistas e cientistas (Camponeses, Filósofos, Arquitetos, etc...), e não podem ser promotores da futilidade.

8. Nesta divergência entre Rap (underground e comercial), consigo perceber sua filosofia. Mas pode nos dizer se é underground por opção ou imposição? Por quê?
R: Foi por opção, e numa das entrevistas que tive com um Blog brasileiro, eu afirmei que o Underground é apenas um adjetivo, qualifica! Tal como o comercial, também não foz a regra, é um adjetivo, enquanto que o comerciante é um nome (substantivo), eis ai a diferença. E o que me torna Underground é a Profundidade que eu ponho nas letras, as intenções quando estou a compor, a necessidade que sinto de as pessoas ganharem uma consciência mais ampla e crítica, o sonho de ter mais bibliotecas, escolas (ensino de base à faculdade), a necessidade de termos mais postos de empregos e hospitais.

9. Qual a sua ligação com a literatura?
R: A minha ligação com a literatura e saudável, e teve uma influência tremenda na minha forma de compor músicas, porque, antes, de ser Mc sempre escrevi poesias e alguns contos (infanto-juvenil), que pretendo publicar um dia.

10. O que te diz o termo Sociologia enquadrado no seu conceito musical?
R: Sociologia é a ciência que tem como objeto de estudo os fenómenos sociais. E fenómenos sociais, é tudo que acontece numa determinada sociedade desde coisas boas as coisas péssimas. E o meu conteúdo não é indiferente a esta definição.

11. Fale-nos do seu EP “Sanidade Musical”. Atingiu os objetivos?
R: Sanidade Musical nasce no desejo de colocar um tijolo neste edifício que é a cultura Hip Hop… A finalidade deste projeto foi trazer uma visão sobre as transformações que as músicas podem proporcionar na vida das pessoas, quer falando de amor conjugal ou ao próximo, incentivando a luta pela concretização dos sonhos e outros pontos… E, é a minha primeira experiência como Rapper e Produtor, as condições não eram como agora, mas sinto que valeu a pena correr este risco, pois o mundo é uma obra que jamais acaba, e temos é a obrigação de cada homem colocar uma pedra neste mesmo edifício em construção, visto que somos passageiros, dizia um sábio, e o hip hop, o rap não fogem a regra. E com este mesmo projeto, eu pude perceber mais sobre trabalhos de estúdios, de produção, pois atualmente sinto um crescimento enorme no toca as produções, a escrita, as relações com outros artistas, e hoje consigo fazer as coisas com mais calma e alguma perfeição. Sim! Pelas condições de trabalho, acho que a meta que atingi com este projeto, foi agradável, ganhei mais respeito dos manos, principalmente no meu bairro (Samba), apareceram novas conexões, vi pessoas a reverem-se nas músicas, e o projeto continua a circular de blogs em blogs e em redes sociais. 
  
12. Tem se verificado um crescimento de rappers angolanos em parcerias com outros de mercados internacionais. Qual é seu ponto de vista sobre as vantagens/desvantagens destas parcerias?
R: Nas parcerias que tenho assistido ou tenho feito, o que constato é apenas vantagens, permitindo à expansão do trabalho, a troca de experiências, a indagação em outras culturas.

13. Quais são os seus objectivos em prol do cuncurso BeatDown?
R: BeatDown é um concurso de produtores e beat makers, é uma iniciativa da Cérebro Records, espero que haja outras edições, porque permitirá ascensão de vários artistas que se encontram no anonimato. E, o meu objectivo é dar a conhecer o meu trabalho, o que tenho feito desde 2007, como beat maker, e como não podia deixar de ser estou na competição com intuito de vencer "nunca entro numa luta para perder, mas se acontecer paciência". 

14. Se indetifica mais como Mc ou Beat maker?
R: E o Mc que faz beats. Eu comecei a produzir na idéia de minimizar os custos, mas graças a Deus, o trabalho ganhou qualidade e certos artistas identificam-se com os meus beats, e foi assim que o Sombra, meu irmão menor de outra mãe decidiu increver-me no concurso, porque acredita no potencial e se identifica com o meu trabalho.

15. Porque acredita que a democracia não começa no parlamento?
R: Democracia (demokratia ou “governo do povo”) é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente, diretamente ou através de representantes eleitos – Na proposta, desenvolvimento e na criação, exercendo o poder de governação através do sufrágio universal (...) da função legislativa, tem o direito ou poder de eleger quem os governará. E, a democracia começa no cidadão e não no parlamento, porque é a partir do voto individual que se ergue o parlamento, e se dependermos do parlamento, especialmente o de Angola, as funções do estado nunca serão cumpridas (Função legislativa, executiva ou administrativa e a judicial, que por sinal é o mais fraco). Portanto, a democracia aqui só não funciona primeira, pelo facto falta de consciência política ser fraca, segundo é pelo facto de as pessoas terem medo daquilo que não entendem.

16. Como justificas o facto das manifestações crescentes em Angola, sabendo que o partido no poder venceu o direito a governo com mais de 80% da opinião votante?
R: É simples! A má gerência do erário público (a débil distribuição da renda) e os abusos de poder.

17. Estamos a pouco menos de três meses falando sobre os primeiros presos políticos civis da Republica de Angola. Até onde encontras a inocência dos 15+2?
R: A inocência esta pelo facto de não existir registros que comprovem que houve intenções de um “golpe de estado”. E, podes crer que esta mesma detenção é uma guerra psicológica, contra quem pensar em manifestar-se. E, é lamentável que com tantos problemas em África, particularmente em Angola, problemas que necessitam atenção de todos (de sangue novo), ainda haja indivíduos contra o desenvolvimento, contra quem pensa, porque pensar encomenda.

18. Porque razão muitos rappers, com principal destaque aos mais conhecidos não aderem às manifestações?
R: A manifestação é um dever, mas não obrigatório, tem vezes que senti necessidade de participar, e tem vezes que preferi permanecer em casa, e não me torna menos cidadão, ou desinteressado no cumprimento das leis, ou mudanças. Então, cada toma as sua atitude diante das manifestações.

19. Pode explicar as razões que a fizeram permanecer em casa?
R: Não me identifiquei com algumas das manifestações.

20. Como filho de Cabinda, acredita numa independência do Enclave?
R: Acredito numa autonomia econômica apenas.

21. Considerações finais.
R: Paz para que foi, firmeza para quem fica... Em breve teremos dois meus novos projectos. Meu rap é nosso! 

Extra: "A Receita" titulo do novo projecto do Haudaz a sair pela QA, enquanto nao baixe "DAPE"


1 DAPE Feat Sombra [Prod. Haudaz]
      2 Teoria da Elevação [Prod. Levell Kronyko]
3 Tive que Partir [Prod. Haudaz]
4 Breanking The Bords Feat.Bokunurs e Dj Adrovasil Aka Mamen [Prod. Haudaz]



         
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