Por vários órgãos internacionais identificados como rappers com matricula sul africano. Nascidos em Luanda como sobreviventes unidos à luta, se uniram em carruagem familiar com um determinado laço cultural, fazendo do Rap o instrumento de luta numa sociedade onde as pessoas têm receio de serem catalogadas como indivíduos com ponto de vista diferente.
Em entrevista a Cabmusic, Pipokahz o líder vocal do grupo Tribo sul, falou-nos sobre ontem, hoje e perspectivas do grupo para os próximos dias.
“A ONDA DE MANIFESTÇÕES QUE TÊM SIDO LEVADAS A CABO, SEJA PROVA VIVA DE QUE AS PESSOAS QUEREM FALAR”.
Como nasceu a sua trajetória em prol do Hip-hop?
Tudo começou em finais de 1992 com amigos no bairro, por intermédio do Break dance tal como muitos, e 2 anos mais tarde por influências de vozes como Ação Positiva, Atitude Violenta, Nel Boy e tantos outros da época, fiz a primeiras rimas tendo passado por vários grupos e duplas, mas tudo ficou mais sério, em 1999 na África do Sul. Nós, Checovara, Dj Cavera e eu, decidimos formar a Tribo Sul, tendo gravado nosso primeiro single um ano depois, e neste mesmo ano capturamos o Masta Joy e 2 anos mais tarde o Checovara abandonou a carruagem.
Por que
o nome Tribo Sul?
Como mencionado,
o grupo foi formado a quando de nossa passagem por asilo, nas terras de Nelson Mandela.
Estado lá, longe de pessoas próximas por ligações sanguíneas, qualquer um que
falasse português era para nós um irmão, e neste espirito, acabamos a todos por
nos identificar por TRIBO “Carruagem familiar com um determinado laço
cultural” e SUL, por nós sentirmos “Sobreviventes Unidos à
Luta”.
Como era rimar em português numa plateia
que não percebia a linguagem?
Apresentamo-nos ao mercado musical com o single “Faz again”, com 4 faixas,
rimadas em português e em inglês, razão pela qual o titulo “Faz again” uma
mistura de português e inglês que significa “Faz de Novo”, faz de novo porque havíamos
nos apresentado numa estação de rádio com a musica Grava a Mensagem, e o radialista ao ouvir a tradução depois de
solicitar, nos pede para ao vivo e por cima do mesmo beat rimar de novo
(traduzindo) mas em Inglês. Como o nosso inglês não era suficiente para
traduzir ou improvisar, rimamos outra musica que já havíamos estruturado,
contendo um teor explicito e totalmente politizado, tendo o programa terminado
com record de ligações com os ouvintes interessados a saber mais sobre nós e
daí então nos tornamos conhecidos e apelidados de Angolan Dead Press.
Porque até hoje vocês aparecem em muitos registos com
grupo Sul Africano?
Isto são contas de outros
quinhentos, também gostaria perceber (risos). Apesar das identidades
adquiridas, o mercado nunca nos viu como sul africano.
Tomei contato
com o vosso trabalho na fase de divulgação do álbum "GRITO DE LIBERDADE"
publicado em 2003. Que repercussão teve este álbum?
GRITO DE LIBERDADE, é um clássico, é o
álbum dos álbuns, é o primogênito, e quem é pai sabe quão especial é o primeiro
filho. Foi muito polémico, porque na altura não era normal na África do
Sul um grupo de rap trazer conteúdos na sua música, de forma aberta indicando
as causas e os culpados. Com 22 faixas, todas elas produzidas e gravadas no
quarto pelo grupo, em condições piores, foram noites atrás de noites que já
mais serão esquecidas. Somos muito gratos com tudo que conquistamos com o
Grito de Liberdade, desde alguns trocados, shows, amigos, entre eles tu, etc...
Porque não têm tido o mesmo impacto em
Angola?
Por várias razões, entre elas as a distâncias
que as atividades laborais e profissionais, bem como as acadêmicas nos criaram.
Hoje trabalhamos mais tempo online do que direto. Por outra, o mercado nacional
é muito falso, sobrevive muito à base do amiguísmo e bajulações.
Mas a gente continua sobrevivendo, fora
deste amor a camisola que muito se rima por aqui. Ou seja, ser rapper em Angola
não é fácil.
Como é
fazer música de intervenção social num país de Kuduro?
Nem
sei se ainda podemos definir Angola como País de Kuduro, pelo menos acredito
que o ministério da cultura não deve ter esta percepção. Mas indo direito a
questão, confesso não ser fácil. As pessoas têm muito receio de serem
catalogadas como indivíduos com ponto de vista diferente e, por causa disso,
preferem ficar caladas, preferem deixar passar o que está errado e preocupar-se
apenas em conseguir a sua migalha de cada dia. É nos abraços do medo que se faz
música de intervenção social em Angola. É difícil ter apoios, e quando surgi,
grande parte é vindo do inimigo em pele disfarçada.
Acredito
que a onda de manifestações que têm sido levadas a cabo, seja prova viva de que
as pessoas querem falar, querem se expressar, só têm é medo de perder o pouco
que conseguiram amealhar. As pessoas pensam: “aquilo que eu não posso dizer ele
diz e, então, só o fato de eu apoia-lo é como se eu tivesse a dizer por mim
mesma”. No que concerne aos rappers e as músicas, já se fez muito mais
intervenção no passado. “Sobretudo numa era em que era muito mais difícil ter
uma opinião contrária à da maioria”.
Nos dias de
hoje, o executivo tem apertado cada vez mais o cerco, infiltrou vários agentes
seus entre os rappers e corrompeu muito dos nossos. Em Angola "consome-se
muita música", mas "as pessoas ouvem muito mais música pelo ritmo do
que pela mensagem".
O que se significa falar a verdade em Angola?
Dentre os
vários significados que essa palavra pode ter em Angola, eu vou dizer dois. Por
um lado é um ato de coragem, de justiça, de liberdade e transparência.
Politicamente falando é uma ferramenta para exercermos a democracia. Por outro
lado, significa MORTE.
Não sei se existe outro país que viola a sua própria constituição, tal como Angola.
Na
música Respirandu a Frustrassaum, te assumes como integrante do núcleo de
Frustrados com o qual o executivo apelidou. E bem recentemente o presidente da
Republica encorajou os manifestantes a criarem partido politico. Já pensou
nesta possibilidade? Ou já esta filiado a algum?
Acredito que o individuo não anda muito bem ciente do que tem usado para
discursar. A participação em politica partidária não é a única opção para
contribuir para o engrandecimento do nosso país. Não acredito que a criação de
um partido seja a opção, alias sempre acreditei que o certo será haver apenas
dois partidos. Ou seja, o tal partido do executivo e o outro representando a
oposição. Também não acredito que exista algum partido que se encaixa aos meus
pontos de vista, sem esquecer que também acredito que os partidos da oposição
em nada se diferem do MPLA. Sinceramente falando, acredito que funcionam como células
da MPLAnização, oposição é só faixada, mais ainda assim, continuo acreditando no sonho da criação de um país onde
cada um se sente parte dele”.
É notório a vossa discordância
em prol da governação em Angola. Para combater tais politicas usam apenas o Rap
ou têm aderido às manifestações?
Quem conhece o grupo sabe qual é
a resposta. Sabe que por varias vezes fomos vitimas das famosas agressões físicas
e violentas, sabe que ostentamos nos corpos cicatrizes de varias torturas, sabe
que muito antes das manifestações que agora muito se fala já eu havia sido
torturado e impressionado devido a música Karta Ritimika gravada em 2005. Sabe
que fizemos parte do elenco que convocou e liderou a primeira manifestação
organizada defronte ao consolado angolano na cidade do Cabo.
Porque
razão muitos rappers, com principal destaque aos mais conhecidos não fazem
parte do Movimento Revolucionário Angolano?
Cada um com a sua razão, nada contra.
Eu também não faço parte, embora reconheça que juntos seriamos muito mais forte.
Sem esquecer que grande grosso dos rappers em Angola
não tem noção dos seus direitos, e confundem os deveres, para o agrado do
executivo.
Pode
informar os leitores da Cabmusic, a sua razão em particular?
Não me identifico com as estratégias.
Tal como creio que muitos envolvidos não defendem a mesma causa.
A
imprensa nacional fala muito sobre o crescimento econômico angolano. Entretanto
os indicadores do IDH coloca o país na 149.ª posição num ranking mundial de 185
países. Como você enxerga isso?
Não
basta falar de números porque eles não têm reflexo na vida das pessoas. É só
para nos orgulharmos de uma coisa que nem usufruímos. São números que a gente
vê e nem entende que estão a falar do nosso país. Uma das explicações pode ser
a distribuição da riqueza. Esses negócios que sustentam a economia que está a
crescer são feitos por um determinado grupo de pessoas que criam um monopólio
em que só os familiares e amigos diretos deles que se beneficiam.
É
importante que o desenvolvimento venha de baixo para cima. Nós temos que
garantir o básico para todos e começamos a subir. Não adianta termos as
centralidades, termos prédios lindos quando não temos condições nos hospitais,
ter escolas com técnicos sem qualificações, ou seja termos médicos em escolas
sem professores.
Não
podemos em crescimento quando a mão de obra menos influente é expatriada.
Espero não estarem a confundir com a China, já que passamos a ser a capital
chinesa na África.
Como esta sendo a receptividade do single recém-lançado?
Até aqui nada a
reclamar. As metas definidas têm um período de 45 dias, e até agora esta tudo a
correr como perspectivado, sei que estamos a conseguir entrar com ele a outros
mercados, como a Itália, Canada, Áustria e Luxemburgo, mercados nunca antes explorados.
Sei que estão a trabalhar com uma editora
internacional. Qual é a vossa ligação com a Nomadic Wax?
Até ao momento
nada nos associa a qualquer editora. Continuamos independentes, embora em
negociações avançadas com uma europeia. A Nomadic Wax é um sonho ainda por
concretizar, mas temos sido muito associados a eles, devido a alguns projetos
deles em que temos estados envolvidos.
O que esta sendo preparado para o Tribosulandu?
Infelizmente neste CD não rimamos sobre as belezas deste país. Fundamentalmente,
intervenção social com aquele toque de política também, pois no meu ver a
realidade social da sociedade é em grande parte condicionada pela atividade
política deste país. Já a temos toda gravada e misturada, aguardando apenas a
conclusão das negociações em que nos encontramos envolvida, para encaminharmos
para a masterização e posterior edição. Esperamos atingir patamares nunca antes
atingidos, e se poder trazer um pouquinho de mais dinheiro melhor (risos).
Conta com alguma participação relevante?
Até onde estamos temos participações apenas em produção
e canto. Mas, uma vez que não temos ainda o álbum editado, é difícil garantir
as participações.
Este EP é falado a cerca de 3 anos. Ao mesmo tempo
ouvimos falar do projeto Raskunho. O que falta para a sua conclusão?
São dois projetos
totalmente diferentes. Um é da Tribo Sul (Tribosulandu) e outro é meu solo
(Raskunho). A princípio a intenção era publicar o meu, mas devido os interesses
da tal editora no trabalho da Tribo Sul, vimo-nos obrigados a engavetar o
Raskunho e dar prioridade ao Tribosulandu.
Para quando um SHOW da Tribo Sul? Não acham que os
apreciadores da vossa música já merecem?
Faz
tempo que deixamos de encontrar nos shows o caminho de inteiração e divulgação
da nossa música. Infelizmente os shows em Angola continuam sendo para os artistas
uma atividade revestida por amor a camisola, enquanto os organizadores e outros
fazem dela uma fonte de receita. Temos recebido vários convites, mas não temos
nos sentido identificado com as politicas e objetivos de tais shows. Tal vez um
nosso (risos), mas os bolsos insistem em dizer que não é o momento (risos).
O que mudou na vossa música com o
surgimento das redes sociais?
Nada
diferente ao demais. É verdade que muitos desde os emergentes aos consagrados,
utilizam as redes sociais para divulgarem e promoverem seus trabalhos. Também é
verdade que têm possibilitado e ajudado muito a compartilhar as músicas. O
Youtube, por exemplo, tem sido responsável pela ascensão de muitos músicos que
se tornaram conhecida graças às redes sociais. Só para teres uma ideia, de
acordo com um estudo feito pelo Digital Marketing Ramblings, mais de um bilhão
de pessoas usam o Youtube e quase 4 bilhões de vídeos são vistos diariamente.
Repara que o nosso vídeo clipe da música MARXA, por sinal o primeiro do grupo,
entrou na TV quer nacional como internacional por via do Youtube.
O que acha das lutas e objetivos do Movimento do
Protectorado da Lunda Tchokwe e Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda
(FLEC)?
Tal
como 1775 falar da independência de Angola é impensável, também acredito que
mais cedo ou mais tarde estes dois povos poderão ver seus sonhos realizados. Eu
em particular espero que isto não venha a acontecer. Acho que os bantus
deveriam estar cada vez mais unidos possível, e estas supostas independência
com certeza em nada nos beneficiará. Recorde que a Constituição do Governo
Autónomo da Lunda Tchokwe, é o princípio de coabitação pacífica e harmoniosa
dos povos da Lunda Tchokwe e de Angola, já os irmãos de Cabinda, vivem os
mesmos dogmas de muitos outros que conheço, e o principal adversário deles é a existência
das varias FLECs.
Agradecidos pelo tempo disponibilizado, tem algo que quer
salientar que por sinal não perguntamos?
Beijos
e Abraços a todos os leitores, artistas e seguidores da Cabmusic, props a ti e
ao João Valentim aka Pastor e, por favor, juntos oremos para que a justiça seja
feita e que LIBERTEM OS MEUS IRMÃOS (15 +1) e que se querem algum culpado que
prendam o executivo.
Segue:
https://soundcloud.com/tribosul
http://www.cdbaby.com/cd/tribosul
https://www.youtube.com/watch?v=-hTfDh9QfBY&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=y4ZjVD1_100
https://soundcloud.com/tribosul
http://www.cdbaby.com/cd/tribosul
https://www.youtube.com/watch?v=-hTfDh9QfBY&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=y4ZjVD1_100
Entrevista feita por: Magda Chitunda.
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