CARTA ABERTA À COMUNIDADE HIP-HOP

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Recebemos hoje uma mensagem de alguém que não se quis identificar, utilizando o nome “Um Cidadão Comum”, e que nos pediu encarecidamente que divulgássemos a sua carta aberta a toda a comunidade Hip-Hop.

Carta aberta à toda comunidade, e movimento Hip-Hop angolano e lusófono.

Desde o seu nascimento, o movimento Hip-Hop, sempre esteve ligado à causas sociais, e sempre esteve na linha da frente das convulsões políticas e sociais das sociedades aonde se vai desenvolvendo. Todos nós (Hip-Hop head’s), deliramos com as músicas (extremamente politizadas) dos Public Enemy, com as reflexões sociais dos Eternal Reflection, Black Star, Common Sense, KRS One, ou mesmo com a militância de 2Pac pela emancipação de direitos entre os diferentes grupos étnicos nos Estados Unidos da América. Nomes como o de Malcom X, Mather Luther King Jr., Bob Marley, Nelson Mandela, BPP (Black Panther Party), entre outros, fazem parte do vocabulário corrente de artistas e consumidores da cultura, e são várias vezes citados nas letras das músicas de mc’s e rappers nacionais e internacionais.

Entre nós (movimento lusófono), temos vários nomes sonantes no que toca à crítica social e discurso político. Entre os vários nomes, temos; Racionais Mc’s, Gabriel O Pensador, Mv Bill, Chullage, Valete, Halloween, Azagaia, Conjunto Ngonguenha, MC K, Ikonoklasta, etc. Entres estes nomes, a maior parte deles, são as maiores referências para a geração de Hip-Hop head’s, que entrou no movimento nos finais da década de 1990, e até à actual geração, mais influenciada pelos Traps, Cruncks e por aí além.

Para continuar a ler a carta, clica em…

Ao admitirmo-nos como membros activos do movimento e da cultura Hip-Hop, não assumimos apenas à responsabilidade de comprar o álbum dos artistas, ir aos seus concertos, ou de entrar em debates (a maior parte deles irrisórios), sobre quem é o melhor ou pior mc ou rapper, e o velho debate do Underground vs Comercial. Comprometemo-nos, acima de tudo, com a ideologia do movimento, e com os ideais de contestação e transformação social, que foram as bases intelectuais que fundaram esta cultura.
Dito isto, parece-me claramente explicado à abordagem à este tema:

A hipocrisia do movimento Hip-Hop…

Desde à prisão dos 20 activistas políticos, angolanos (a maior parte deles fazedores de rap), por parte das autoridades angolanas, que venho reflectindo sobre o nível de comprometimento do movimento Hip-Hop angolano, com os problemas sociais e políticos que assolam o país. Neste momento Angola, é um país governado por uma elite política e militar, que gere o país, como se de um negócio familiar se tratasse. À situação no país chegou à um nível caricato, aonde existe uma hierarquia política e militar, que corresponde à mesma proporção, à uma hierarquia financeira e de poderes absolutos. Para que se possa alcançar um lugar nesta cadeia, é necessário que haja algum vínculo familiar ou comprometimento político, com quem está no topo, o clã “Dos Santos”. Em Angola existe democracia e liberdade, sim! Desde que se faça o que o Sr. Presidente quer.

Logo abaixo deste círculo, como em qualquer sistema feudal, vem a classe dos vassalos, que garantem à permanência e a manutenção do poder. Nesta classe temos os dirigentes do SINFO, DNIC, UGP, PNA, e dos órgãos de comunicação social (TPA, RNA e Jornal de Angola), que certificam-se que o povo permanece inerte face as agressões por parte da elite, ao mesmo tempo que faz todo o trabalho de campo destes últimos (execuções, agressões, detenções esporádicas, etc.). Desta forma, garante-se que a elite desfruta de um enorme banquete petrolífero e diamantífero, sem que haja quaisquer problemas com o povo, ou com à comunidade internacional (que também desfruta deste banquete).
Todo este esquema está montado, e perfeitamente visível aos olhos de toda a sociedade, e consequentemente de todo o movimento Hip-Hop.

O que me leva a pensar:
-Onde é que para o movimento Hip-Hop angolano?
-Que papel era esperado do movimento Hip-Hop, numa sociedade como a nossa?
Dos raros casos de contestação política e social, e de activismo político, os seus autores são logo silenciados por quantias avultadas de dinheiro, ou quando isto não resulta, são repreendidos violentamente pelas autoridades como se de criminosos se tratasse. E covardemente, todos aqueles que fazem parte do movimento, assistem de camarote à esta trama, com medo, aterrorizados…patéticos.

ISTO NÃO É HIP-HOP!

Quando mc’s, dj’s, B-Boys, graffwriter’s, bloggers, e fazedores de opinião dentro da cultura, acobardam-se das suas responsabilidades sociais, não é Hip-Hop!
-Hip-Hop é activismo social e político!
-Hip-Hop é comprometimento com as causas sociais das nossas comunidades!
-Hip-Hop é o último reduto de esperança de comunidades precárias!
-Hip-Hop é o grito de desespero de indivíduos marginalizados pela sociedade contemporânea!

Era suposto o movimento Hip-Hop levantar-se face à detenção dos 20 jovens (com quem partilhamos à mesma paixão por esta cultura). Era suposto nós movimento Hip-Hop, e, ou, jovens, sermos à força transformadora da nossa sociedade. Não peço que se rebelem contra a polícia, que pratiquem actos de violência injustificada, ou que saiam de casa e deem o peito à abater, mas vamos fomentar o debate político e social dentro dos meios Hip-Hop, nos blogs, sites, shows. Vamos atingir o máximo de pessoas, levando à democracia e liberdade, para aqueles que as desconhecem. Vamos apoiar-nos na tecnologia que temos, e começar o protesto nas redes sociais, no meio virtual, com apoio de vários artistas (de vários países) com quem muitos dos nossos artistas mantêm relações de amizade, e dar voz à esta luta, que é por todos nós, que é por Angola.

O movimento Hip-Hop pode sim ajudar a resolver os problemas da nossa sociedade, basta que os artistas e consumidores, se comprometam com as causas sociais e políticas, que assolam à todos nós. Isto é um wake up call à todos os Hip-Hop head’s.

LIBERDADE  AOS ACTIVISTAS POLÍTICOS!
A LUTA CONTINUA…

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